sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

43- Máscara negra





 
43- MÁSCARA NEGRA






Mudava-se para melhor. A passagem dos dias me confirmaria isso. Mesmo que eu começasse a sentir que estava próximo o momento em que eu perderia Chiara. E foi no reveillon, na passagem de 69 para 70 que cometi uma loucura.
Durante todo o dezembro, Chiara não “aparecera” para falar comigo. Até mesmo Maria Goretti, eu estava vendo pouco. Ela, conforme já disse, estava um ano na minha frente em sua vida escolar. Já fazia faculdade e, conseqüentemente, isso fez os meus encontros com Chiara se tornarem mais difíceis naquele ano. Mesmo assim, nos raros momentos em que esteve comigo, como Chiara, incentivou-me a estudar, ajudando-me muito no vestibular.
Naquele baile de reveillon, como todos os anos, tradicionalmente depois da meia-noite a festa virou carnaval. No brinde da meia-noite, quando todo mundo se cumprimentava, varri o salão do clube com os olhos à procura de Maria Goretti. Encontrei-a, e como antigo colega de ginásio e colégio dei-lhe um abraço e dois beijos no rosto. Tinha esperança de encontrar ali, naquele momento, Chiara. Não encontrei. Era mesmo Maria Goretti.
Bebi um pouco além da conta e novamente percorri o salão com os olhos atrás de minha esperança. Alguns amigos portavam um lança-perfume. Pedi-lhes que molhassem o meu lenço... De repente um grande torvelinho na minha cabeça, o som da música reverberando como um disco em rotação errada, um arrepio fantástico suprematizando todas as sensações...
Maria Goretti dançava com uns amigos, cheguei dançando, peguei-lhe a mão e a arrastei dali, tomando-a literalmente de seus amigos. Até aí tudo normal porque éramos dois colegas estudantes dançando. Era uma noite absurdamente quente. Ela disse que tinha sede e propôs sairmos um pouco antes de dançar. Ela passou na mesa de seus amigos e pegou uma garrafa de Coca. De repente, tudo muito rápido, sem tempo pra ter juízo, a orquestra atacou de “Máscara Negra”. Na hora do verso: “...vou beijar-te agora...” dei-lhe um beijo na boca. Ela recuou assustada, sem caracterizar propriamente uma rejeição.
- Por que você fez isso? - perguntou-me.
Eu não soube responder, principalmente porque passava o efeito da lança-perfume e percebera que minha esperança de encontrar Chiara naquela noite, morria ali. Restava ainda a bobeira “do depois” quando se cheira a lança. Quem viu, e houve gente que viu o beijo (Lucinha de Dona Vitiza, João Alves, Neuza e Branca de Nina, Margot Pezzini, Milton Garrafa e outros) não deve ter entendido nada. Até então, a cidade não nos vira juntos assim, numa situação como aquela. Pedi desculpas a ela, disse que era carnaval e fui perdoado. Perdoou, pediu licença e, por via das dúvidas, não quis mais dançar comigo naquela noite.

Nenhum comentário:

Postar um comentário