quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

19- Novos rumos



19- NOVOS RUMOS




No começo daquele ano, 1960, como se pressentissem, meus pais e meus irmãos começaram a aventar a possibilidade de, num esforço conjunto familiar, construir a nossa casa definitiva. Minha mãe sempre tivera esse sonho: uma casa que fosse dela, de papel passado e onde ela pudesse plantar suas árvores frutíferas pensando nos netos que teria no futuro. Houve então um grande entusiasmo, um esforço concentrado de todos, e à custa de sacrifícios, começamos a levantar as paredes de nossa casa: tudo muito simples como a nós era possível fazer. Acostumávamo-nos à idéia de mudar para uma casa menor e de menos conforto que a da Usina.
Em outros aspectos, a vida começava a melhorar aos poucos: Luciano passou a trabalhar no Banco Mercantil, Lúcio e Christiano, na montagem da nova fábrica, depois de tentarem, sem sucesso, trabalhar em Belo Horizonte.
Eu, tendo completado o curso primário, fiz a “admissão”, cursinho necessário e preparatório de seis meses, naquele tempo obrigatório para se entrar no Ginásio. Alguma coisa já me dizia nessa época que minha vida ia mudar.
Nossos planos de trocar o lugar onde morávamos pela parte alta da cidade representaria mudanças. Uma nova etapa começaria, e eu passei a me sentir mais maduro, só de pensar e fazer planos, grandes planos para a minha vida: ginásio, científico e universidade, ainda um sonho distante, mas não impossível. Apenas esperava, ansiosamente, o momento em que nós, em nossa casa nova, pudéssemos ter também um aparelho de televisão, desde que eu me encantara assistindo uma vez, da rua, pela janela, a um programa indecifrável (por ter sido visto de longe) na casa de Seu Sanchez . 
        Tudo seria novidade a partir da casa nova e do centro da cidade: novos amigos, proximidade com os meus primos que moravam naquela parte da cidade, e com as meninas que cada vez mais eram meu interesse, e a confirmação de uma ausência. Nunca mais, desde 58, naquele rápido acontecimento com Maria Goretti na escola, eu havia tido qualquer notícia de Chiara. Quase perdera a esperança de reencontrá-la. Salvaram-me os sonhos a partir de uma certa época, que reativaram as expectativas. Não tinha, no entanto, certeza de que a reencontraria, mesmo mudando-me para perto de onde Maria Goretti morava.
       
        Nossa casa foi erigida aos poucos. Primeiro uma meia-água com quatro peças, e mais tarde a outra metade, em sentindo contrário, formando as duas águas. Nessa primeira fase, da construção pela metade, tivemos o batismo de passar nela uns dias: os últimos dias do jubileu de 1960. Meus pais, católicos, ficaram felizes. Eu e meus irmãos, cada um com seu interesse, felizes também por estarmos morando, mesmo que provisoriamente e só aqueles dias, no centro.

        Eu comecei a sentir que minha vida tomaria um novo rumo...


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