terça-feira, 29 de janeiro de 2013

18- Prenunciando o mundo dos adultos



18- PRENUNCIANDO O MUNDO DOS ADULTOS




Naquele tempo, entre nove e dez anos, por mais que possa surpreender as pessoas de hoje, que pensam que fosse ao contrário, nós, os meninos, já pensávamos em imitar os nossos irmãos mais velhos, como, por exemplo, em seus atos de fumar, namorar e ter uma bicicleta. Pelo menos, segundo me lembro, é como pensávamos, eu, Antônio Dupin, Antônio Fernando, meu primo e outros meninos da minha idade.
O tempo era das famílias grandes, e irmão homem era sempre uma referência masculina, maior mesmo que o pai, por estar mais presente no dia-a-dia, enquanto propositor de brincadeiras e até mesmo de certos desafios.
Já parávamos na calçada, na praça em frente à igreja, para ver as meninas passando depois da missa e antes do cinema, fazendo tudo que aprendíamos com os nossos irmãos. Exagerávamos no Gumex, que era uma pasta gordurosa para assentar o penteado dos cabelos, e alguns, mais precoces, já experimentavam até fazer a barba, na esperança de que, cortando, os pêlos prematuros pudessem se transformar em barba de verdade. Eu já experimentara fumar. Fizera várias tentativas, por influência de Luciano, meu irmão que já fumava e tentou me ensinar uma vez. Veja-se aqui a má influência, embora de uma forma não intencional. Não se falava, à época, dos males que o cigarro fazia. De outra vez foi através de M, uma menina mais velha que insistia em me ensinar a beijar e que também insistia em me ensinar a fumar. A princípio, não gostava muito, engasgava com a fumaça e ficava com um gosto horrível na boca, mas aquilo era quase uma obrigação masculina. Ou melhor, pode-se dizer, quase uma obrigação de adulto, porque muitas mulheres também fumavam, só evitando fazê-lo em lugares públicos. Uma vez beijei M depois que ela havia fumado. Não gostava do gosto de sua boca com o hálito de tabaco.
Desde pequenos, num gesto mais inocente, brincávamos de fumar talo de chuchu, que era um galho ou extensão da folha do chuchuzeiro. Por dentro esse talo era oco e quando seco funcionava como um cigarro. Botávamos fogo numa ponta e aspirávamos a fumaça, imitando os adultos.
Chiara uma vez me repreendeu no quintal de minha casa quando me viu fumando aquilo. Disse-me que eu não deveria nunca aprender a fumar, porque depois seria muito difícil abandonar o vício. Isso, quando eu tinha seis anos, na época que ela brincava comigo. Disse-me com sabedoria de adulta, que o cigarro fazia muito mal à saúde. O futuro se encarregaria de dar razão a ela: fumei por trinta e cinco anos, às vezes compulsivamente, e tive uma grande dificuldade para derrotar a dependência.

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