domingo, 27 de janeiro de 2013

15- Andar de bicicleta



15- ANDAR DE BICICLETA









Bicicleta eu nunca pude ter na infância. Era um grande sonho que se revelou impossível. Primeiro porque eram caras, segundo porque tive uma enorme dificuldade para aprender a andar. Quem tinha uma e se exibia, inclusive recebendo olhares das meninas, era Antônio Dupin. Eu não podia nem tentar aprender a andar nas dos meus irmãos, porque eles não deixavam. Cada um dos meus três irmãos (Lúcio, Luciano e Christiano) que moravam ainda conosco tinha a sua. E eram lindas: as três de marca Göricke; a de Luciano, preta; a de Lúcio, azul e a de Christiano, um vermelho puxado para cor de vinho. O máximo que eles faziam era emprestar para Zezé, meu irmão mais velho que morava em Belo Horizonte e nos visitava de quinze em quinze dias. Na falta de poder andar, eu as lustrava com uma flanela quando meus irmãos estavam em casa. Gostava também de andar de carona com eles, na garupa.

Lembro que muitas vezes eu sonhava que conseguia andar sozinho, pedalando livremente sem ajuda e sem cair. Sonhava, também, que eu conseguia passar a perna por cima do selim com ela em movimento antes de começar a pedalar. Acreditem: a sensação é tão boa como sonhar que se está voando. Quem já experimentou esse sonho sabe do que estou falando. A tristeza quando eu acordava era igual: frustrante.

Sonhei uma vez que eu andava numa bicicleta azul e carregava Chiara na garupa. Ela passava o braço em minha cintura para se segurar, como uma vez eu vi uma moça bonita do bairro da Estação fazer com seu namorado.

Aprendi a andar de bicicleta só muito tempo depois, quando eu tinha já uns quatorze anos, mas nunca fui um exímio ciclista. Ando apenas o suficiente para não cair. Com essa idade, meus irmãos já consentiam em me emprestar. Passar a perna por cima do selim, até hoje nunca consegui. Essa é, junto com o fato de eu nunca ter aprendido a nadar bem, uma das minhas grandes frustrações.



Frustrantes, impraticáveis ou impossíveis, muitas dessas atitudes serviram para fechar aquele período entre infância e pré-adolescência. Serviram para mostrar que os caminhos do futuro começavam a se abrir. Serviram para demonstrar que, apesar de tudo, o importante era tentar, experimentar e insistir em acreditar que podíamos ser capazes. Ajudava-nos a entender o mundo e a descobrir qual era o nosso lugar nele. Era o mundo dos adultos sendo aos poucos apresentado a cada um de nós, como um desafio que deveríamos encarar de frente, sob pena de nos tornarmos adultos incompletos...




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