segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

17 - O fim da usina




Neste texto, é bom que se saiba, as datas não correspondem com exatidão a história real nem os fatos transcorreram necessariamente na ordem descrita e com as características narradas. O que narro como acontecido no ano de 1960, na realidade não transcorreu tão rápido assim nem o desajuste social foi tão intenso, grave e repentino. Houve mais ou menos um espaço de três anos entre esses acontecimentos. O uso da narração como sendo tudo nos anos 60 é, podemos dizer assim, um ajuste literário, assim como o impacto social.






17 – O Fim da Usina





Em 1960 a população da Usina começou a sentir que as coisas não iam bem. A produção da fábrica caiu, houve uma primeira lista de dispensa de operários e também se falou em falência da Companhia. Prometeu-se de tudo: um leilão público, muitos interessados e até a garantia de que um novo grupo assumiria, e todos teriam os seus direitos assegurados. O desespero tomou conta das famílias que, até então, viviam felizes e seguras, tinham uma vida agradável e uma boa casa para morar. A sorte é que se instalava em Matozinhos uma nova fábrica, a Fábrica de Cimento Cominci (iria ser inaugurada naquele ano), e isso abriu uma nova frente de trabalho. Muitos operários fizeram, à época, acordo com a Usina e se transferiram para a nova fábrica. Meu pai, em vias de aposentadoria, resistiu até o último momento. Só mais tarde, em 62, para completar o tempo de previdência, seguiu seus velhos colegas e trabalhou ali, na Cominci, o período que faltava para se aposentar. Em fins de 62, falava-se que a justiça lacraria as portas da Usina Santo André, e aos operários seria dado um prazo para que procurassem novo local para morar. Numa jogada política, a Usina não faliu, mas transferiu parte de seu maquinário para a cidade de Passos, deixando Matozinhos a “ver navios”.
Era triste ver as casas sendo desocupadas e a vila operária se esvaziando. Cada vizinho que se mudava era como se um pedaço de nossa história estivesse sendo mandada para longe.
        Para aumentar mais ainda o clima de tristeza na região, a Fábrica de Tecidos Pery-Pery, vizinha à usina, na mesma época, também fechou as suas portas, falindo e deixando igualmente dezenas de famílias frente a um futuro incerto e pouco promissor. Essa fábrica simplesmente não remodelou o seu maquinário e conseqüentemente passou a ter seus pedidos reduzidos. Não se preparou para a modernização do mercado, sendo engolida pela concorrência. Toda uma região que antes havia sido próspera e ativa, revestia-se agora de tristeza e insegurança.
        Mais ainda: a política desenvolvimentista do presidente Juscelino, incentivando a construção de rodovias, praticamente relegou as ferrovias federais a segundo plano. Também o bairro da Estação, de muitos momentos felizes da minha infância, experimentava seu momento de esvaziamento. Progressivamente, os trens foram perdendo a preferência como transporte de passageiros, sendo trocados por ônibus que faziam os trajetos de forma mais rápida.
        Todas as esperanças matozinhenses transferiam-se para a parte alta da cidade e para a nova fábrica de cimento.
        Neste ano de 1960, minha irmã Laura se casou. Conheceu Tomaz, um funcionário paulista da nova fábrica, e, para minha tristeza, pois era muito apegado a ela, nos deixou. Lembro-me da bela festa em minha casa e de todos os convidados, inclusive (novidade em Matozinhos) os engenheiros franceses e suas esposas - eles participavam da etapa de montagem da nova fábrica.
        Lembro também que à festa do casamento compareceram Seu Alcides, Dona Maria e Maria Goretti, que mais uma vez não me olhou.

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